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O elefante e a Petrobras

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Quando Jair Bolsonaro, eleito presidente da República, declarou não entender nada de economia, temi pelo pior. Você pode até dizer que não se interessa por religião, futebol ou política e seguir a vida. Mas não pode ignorar a economia.

L.F. Veríssimo escreveu, numa crônica, que, em se tratando de economia, não podemos nos comportar como o suíço que caminhava ereto entre dois exércitos no campo de batalha, se recusando a se defender das balas porque seu país era neutro. Muito menos transferir a responsabilidade para terceiros, como fez Bolsonaro. Afinal, Paulo Guedes não teve um voto sequer e, portanto, não pode decidir sozinho sobre um assunto tão importante.

Se ainda desse ouvido para seu ministro da Economia seria, como se costuma dizer, "dos males o menor". Mas, no caso da mudança de comando na Petrobras, Bolsonaro agiu com o cuidado de um elefante numa loja de louças e provocou um estrago danado não só na empresa como no próprio mercado de capitais. Na manhã de segunda-feira (22/02), quando escrevo este artigo, dou uma espiada no celular e vejo que as ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, "derreteram" 20%, depois de terem caído cerca de 8% na sexta-feira anterior. Só nesses dois dias, a empresa "encolheu" 25% do valor de mercado (R$ 100 bilhões).

O problema é que a derrocada das ações da Petrobras atinge também outras estatais, como Banco do Brasil (queda de 12%). Como as empresas estatais têm um peso significativo na carteira teórica do índice da Bolsa, todo o mercado acionário entra em colapso (queda de mais de 5%). E isso acontece justamente quando o mercado acionário ensaiava uma recuperação, depois de vários anos de prejuízos. Com perdas até para a inflação, por causa dos juros muito baixos, os poupadores se viram forçados a desviar uma parcela de suas aplicações para ações. Isso animou, inclusive, a algumas empresas a lançarem ações na Bolsa.

Sendo a confiança dos investidores uma condição prévia para a recuperação da economia, a intervenção atrapalhada de Bolsonaro na Petrobras gerou instabilidade no mercado e incerteza futura. Isso já pode ser constatado pelo aumento da taxa de juros futura dos títulos públicos e pela alta do dólar para R$ 5,50, apesar da intervenção do governo no câmbio para tentar estabilizar a moeda. Além disso, o mercado desconfia que tenha havido "vazamento" da notícia de substituição do presidente da Petrobras, provocando perdas principalmente para os acionistas minoritários (objeto de investigação pela CVM).

Diante da cobrança dos caminhoneiros da promessa não cumprida na campanha eleitoral - de manter baixo o preço do diesel - e ameaça de breve, Bolsonaro usou gasolina para apagar o incêndio e o fogo se alastrou ainda mais. A troca de comando na Petrobras leva a indagações sobre o futuro de Paulo Guedes, já que ele foi quem indicou o atual presidente (Roberto Castello Branco) e é avalista da atual política de preços da empresa (de acompanhar a variação do preço do barril de petróleo e variação cambial) e redução do endividamento (pela venda de ativos).

A indicação de um general da reserva para a presidência da Petrobras, ao invés de alguém conhecedor do setor, levou o mercado a desconfiar que a empresa deixará de seguir a atual política de preços, voltando a dar prejuízo (causa do pânico desta segunda-feira). Esse medo foi reforçado pelo anúncio da redução do preço do diesel para os próximos dois meses (pela diminuição de impostos federais). Em resumo: o episódio marca o fim da agenda liberal e a volta do intervencionismo populista.

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